Processo de remediação do solo na Estação Antártica Comandante Ferraz
Poucos dias após o incêndio
que destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), em fevereiro de
2012, teve início o processo de retirada dos escombros. Em função da chegada do
inverno, que impede a realização desse tipo de tarefa, tal atividade não pôde
se estender por muito tempo. Por isso,
ela foi retomada e finalizada na temporada 2012-13, quando também foi efetuada
a montagem da estação temporária (os Módulos Antárticos Emergenciais).
Ao lograr remover inteiramente
os resíduos sólidos deixados pelo incêndio, a operação permitiu que já nos dois
verões seguintes fosse realizado o trabalho de remediação do solo local – isto
é, que se executassem procedimentos visando a diminuir a
contaminação por hidrocarbonetos detectada na área da antiga EACF, especialmente
no lugar onde ficavam os geradores que alimentavam a base. A poluição,
principalmente por óleo diesel, se originou de pequenos derramamentos ocorridos
ao longo dos quase trinta anos de operação do complexo.
Desde
2012 são coletadas amostras do solo e da água, submetidas a análise
para a determinação da profundidade e extensão da contaminação no sítio da antiga EACF. Seguindo
as normas de proteção ambiental que regulam a atuação dos países presentes na
Antártida, foi desenvolvido um plano
de remediação para mitigar o impacto ambiental.
Foram utilizadas técnicas
de biorremediação, baseadas na capacidade que alguns microorganismos indígenas têm
de consumir os hidrocarbonetos presentes na área poluída, erradicando-os ou
minimizando sua presença. É possível acelerar essa degradação corrigindo o solo
com a adição de nutrientes, como o nitrogênio, e melhorando sua oxigenação com
o uso de mangueiras de ar.
Durante a Operação
Antártica 2013-14 (OPERANTAR XXXII) foi iniciada a primeira fase do plano de
remediação do terreno ocupado pela estação incendiada. Entre os dias 17 e 24 de
janeiro de 2014 promoveu-se a descontaminação da superfície onde estavam os
geradores queimados, uma área medindo aproximadamente 22 x 12 metros, com 2,5m
de profundidade, perfazendo cerca de 700 m3 de terra movimentada.
No local, utilizou-se a
biocava, uma técnica de biorremediação in
situ, que consiste no “empacotamento” do solo misturado com fertilizante (no
caso, uréia) em uma geomembrana (manta de polietileno de alta densidade –PEAD)
de 2mm de espessura. Esse “pacote” é colocado na própria cova (“cava”) de onde a
terra havia sido retirada, para que os micróbios metabolizem os hidrocarbonetos
ao longo do tempo com o auxílio de uma rede de mangueiras instalada para a
aeração do solo.
Essa primeira intervenção
foi feita de forma emergencial, pois naquele momento se acreditava que as obras
de reconstrução teriam início já no verão seguinte, o que terminou não se
confirmando. Como as fundações da nova EACF estariam situadas mais ou menos onde
ficava a antiga estação, optou-se por fazer o tratamento do material
contaminado no próprio local.
No verão seguinte, uma
segunda etapa do plano de remediação do solo da EACF foi posta em prática. Em
janeiro de 2015, em data exata ignorada, a intervenção ocorreu sobre uma área contígua à que já havia
sido tratada, situada entre a zona dos geradores e a linha da praia.
Adotou-se uma técnica de
biorremediação ex situ, através da
construção de uma biopilha convencional: o material contaminado (450 m3)
foi removido, misturado com fertilizante e colocado em uma outra área que já havia
sofrido impacto e que fora preparada previamente para esse propósito. Essa biopilha foi coberta com uma geomembrana
e permanece estocada enquanto se processa a degradação dos poluentes.
Para a execução dos
trabalhos, a SECIRM (Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do
Mar) coordenou a participação de várias instituições. Marinha do Brasil (por meio do grupo-base da EACF
e do Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais), Ministério do Meio Ambiente
(através da Secretaria de Biodiversidade e Florestas) e UFSJ (Universidade
Federal de São João Del-Rey) participaram
dos trabalhos de remediação do terreno, enquanto Instituto
Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), CETESB (Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo) e IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) atuaram na monitoração da contaminação.
Amostras de solo da
biocava e da biopilha têm sido coletadas no início e no final de cada verão
para aferir a eficiência das medidas adotadas. Os documentos apresentados pelo
Brasil nas reuniões internacionais mencionam planos de implementação de novas
biopilhas, com monitoramento dos níveis de hidrocarbonetos presentes, bem como
a seleção das bactérias e fertilizantes mais eficientes e a elaboração de
planos de emergência que incluam processos de biorremediação. No entanto, até 2017 não havia notícias de que tivessem ocorrido iniciativas concretas nesse sentido.
________________________________________________
FONTES:
Remediation
Plan for the Brazilian Antarctic Station Area. Documento IP 07,
apresentado à XXXVII Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, realizada
em Brasília, em 2014 – disponível em https://www.ats.aq/devAS/Meetings/DocDatabase?lang=e;
Remediación de Daños
Ambientales. Documento DI 03, apresentado à XXV Reunión de Administradores de
Programas Antárticos Latinoamericanos, realizada em Buenos Aires, em 2014
–disponível em http://www.rapal.org.ar/DOCS/INDEX.HTM;
http://cetesb.sp.gov.br/blog/2015/03/26/cetesb-realiza-nova-campanha-de-coleta-de-amostras-na-antartica/;
http://cetesb.sp.gov.br/blog/2015/03/26/cetesb-realiza-nova-campanha-de-coleta-de-amostras-na-antartica/;
Bioremediation
on the Brazilian Antarctic Station Area. Documento IP 16,
apresentado à XXXVIII Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida,
realizada em Sófia, em 2015 – disponível em https://www.ats.aq/devAS/Meetings/DocDatabase?lang=e;
Environmental
Remediation in Antarctica. Documento WP 49, apresentado à
XXXVIII Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, realizada em Sófia, em
2015 – disponível em https://www.ats.aq/devAS/Meetings/DocDatabase?lang=e;
Remediação de Danos
Ambientais e Remediação de Danos Ambientais Processo de Biorremediação - Fase II. Documentos DI 41 e DI 43, apresentados à XXVI
Reunión de Administradores de Programas Antárticos Latinoamericanos, realizada
em Montevidéu, em 2015 –disponível em http://www.rapal.org.ar/DOCS/INDEX.HTM;
Environmental
Remediation in Antarctica. Documento IP 76, apresentado à XXXIX
Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, realizada em Santiago, em 2016
– disponível em https://www.ats.aq/devAS/Meetings/DocDatabase?lang=e;
http://3gestaoambiental-unisantos.blogspot.com.br/2017/10/ministerio-do-meio-ambiente-promove.html.
http://3gestaoambiental-unisantos.blogspot.com.br/2017/10/ministerio-do-meio-ambiente-promove.html.
Comentários
Postar um comentário