Acidente com Hércules da FAB na base chilena Frei

Às 11h30min do dia 27 de
novembro de 2014, o avião Lockheed C-130M Hercules de prefixo 2470 da Força
Aérea Brasileira (FAB) acidentou-se ao pousar na pista coberta de neve do
aeródromo Marsh,
da estação chilena Frei, na ilha Rei Jorge. Com muito vento e baixa visibilidade,
a aeronave perdeu o trem de pouso principal do lado direito quando tocava o
solo. Desestabilizada, chocou-se com a neve acumulada na beira da pista, perdendo
também seu motor nº 4. O avião rodopiou e foi parar no fim da pista, mas nenhum
das 49 civis e militares que ele transportava ficou ferido. Abaixo, dois vídeos do pouso:
Os bombeiros chilenos tiveram prontíssima
reação diante do acidente, chegando ao local em poucos segundos. A pista teve
de ser interditada por alguns dias, mas no dia 1º de dezembro já estava
reaberta e completamente operacional, tendo o avião acidentado sido arrastado
até o pátio de estacionamento.
Além das avarias já mencionadas, também
houve danos significativos na asa direita e na parte inferior da fuselagem
principal, pois a aeronave pousou de barriga. Houve um pequeno vazamento de
combustível, que foi estancado, e a neve abaixo dele foi raspada. Os fluidos do
avião foram drenados, mas não sua carga de combustível, e as partes elétrica e
hidráulica foram desligadas. Também foram retirados
equipamentos sensíveis e de valor elevado.
Entre março e abril de 2015, ocorreram estudos de viabilidade da realização do resgate. Foi realizado
um serviço de nivelamento e estabilização, em que a aeronave foi
içada e colocada sobre macacos-cavaletes. Tal procedimento
foi executado pelo TAM Recovery Team,
grupo capacitado para a remoção de aeronaves danificadas em qualquer tipo de
situação, e se destinava a permitir que a aeronave ficasse em condições de ser
trabalhada para reparos, no verão seguinte. Essa operação custou R$ 1,62 milhão,
mais de US$ 500 mil pelo câmbio da época.
No
entanto, nos meses seguintes optou-se por desmanchar o avião e mandá-lo para o
Brasil. A FAB solicitou
apoio da Marinha do Brasil (MB) para a remoção, e entre novembro e dezembro de 2015 ambas as Forças
enviaram uma missão para reconhecimento e novos estudos, desta vez acerca da viabilidade
da retirada do avião desmontado. O planejamento do desmantelamento foi realizado, mas
a operação só viria a ser executada um ano depois.
O Brasil passou a sofrer pressões
internacionais para uma ação efetiva no assunto, especialmente da parte do Chile, sob a alegação de que a
permanência da aeronave avariada por tempo indefinido no local feria os
tratados de proteção ambiental à Antártida de que o país é signatário.
Finalmente, promoveu-se a retirada da
aeronave em duas fases, de novembro de 2016 a fevereiro de 2017. Na fase 1,
realizada por membros da FAB entre 18 e 24 de novembro de 2016, foram retirados
cerca de 15.000 libras de combustível, além de todo material que pudesse ser
reaproveitado ou facilmente removido.
A fase 2, iniciada em 07 de dezembro de
2016, envolvia o corte, a desmontagem e a retirada da aeronave, com o descarte apropriado
das partes não aproveitadas. Comandada pela MB, a ação contou com o uso de uma
grande quantidade de equipamentos trazidos pelo Navio de Apoio Oceanográfico
(NApOc) Ary Rongel (uma chata de carga, um bote, dois tratores Caterpillar D6, um trator bob cat, duas
escavadeiras com tesouras
hidráulicas, uma pá carregadeira, um caminhão munck, uma caminhonete
F-250, dois geradores e 17 contêineres de 20 pés (dos tipos open top e habitável),
além do apoio da barcaça de carga Amderma, da base russa Bellingshausen.
Depois da instalação de uma área de
trabalho no pátio do aeródromo Marsh, se deu o desmantelamento da aeronave, entre 14 e
22 de janeiro de 2017. Suas partes, acondicionadas nos contêineres, foram
transportadas de volta para o Brasil pelo Ary Rongel em fevereiro. No dia 31 de
janeiro a área onde o avião permaneceu durante dois anos, na plataforma civil
da base aérea Marsh, foi devolvida para o uso dos chilenos. A operação contou
com importante colaboração do pessoal das estações Frei, que prestou apoio de alojamento
e alimentação, e Bellingshausen.
Cogitou-se uma campanha para recuperar
o avião e levá-lo voando para o Brasil no verão 2015-16. No fim, mesmo com a possibilidade de resgate
viabilizada pelos trabalhos realizados em 2015, decidiu-se pela desmanche do
avião e sua remessa de navio para o Brasil no ano seguinte. A FAB afirma ter
realizado um cálculo envolvendo todas as dificuldades climáticas e logísticas, os
riscos operacionais e os custos envolvidos para chegar a essa decisão, mas
o fato é que os mais de US$ 500 mil gastos para nivelar a aeronave teriam sido suficientes,
por exemplo, para custear uma expedição para o interior da Antártida.
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Fontes:
Resgate da Aeronave C-130H 2470 da Antártica. Documento DI 22, apresentado à XXVIII Reunión de Administradores de Programas Antárticos Latinoamericanos, em Lima, Peru, em 2017 –disponível em http://antarticaperu.gob.pe/rapal/documentos.html;
https://aviation-safety.net/database/record.php?id=20141127-0&lang=es;
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